martes, 6 de noviembre de 2012

Bragança I







CASTELO


E provável que, em povoado tão próximo da fronteira, se tenha construído uma linha defensiva, neste local, ainda no reinado de D. Sancho I (dador do 1º foral em 1187). Em 1377, reinava D. Fernando, a "vila" já estava totalmente cercada. (A fonte d' el rei - "poço do rei" - e os panos de muralha devem datar do séc. XV, reinado de D. Afonso V). D. Dinis, nos fins do séc. XIII, teria mandado construir o primeiro castelo (mais um "castelo novo" dos muitos que foram edificados no seu tempo), afirmando-se, assim, a importância do aglomerado. É sobre este castelo, ou a partir dele, que se constrói o que hoje podemos ver (As obras, iniciadas em 1409, com D. João I, só terminam 40 anos depois). 
        



Na "vila", destaca-se a Torre de Menagem (construção iniciada por D.João I) "...com comandamento sobre o resto das muralhas...". Construída, como é habitual, no ponto mais defensável -" mais larga e robusta que as maiores torres góticas do Sul" - é, porventura, " a mais elegante e bela do país". Sustenta, nos seus ângulos, vigias de bom recorte; no seu interior, uma cisterna, que serve uma função residencial atestada, também, por aberturas de amplos vãos e de esmerado lavor (destaque-se a janela ogival geminada da fachada sul). A cintura defensiva que a protege é constituída por panos de muros e cubelos. 




Hoje, alberga o Museu Militar. Deve o visitante subir ao terraço ameado, para contemplar belas paisagens (Serras de Nogueira, Montesinho, Coroa e, para norte, terras leonesas e cumes da Sanábria). 




DOMUS MUNICIPALIS



Ex-libris da cidade de Bragança, é um dos mais insólitos monumentos tardo-românicos portugueses do século XIV. A função aparentemente civil para a qual foi concebido, a sua peculiar organização em pentágono irregular, a sucessão de arcarias de volta perfeita que ritmam os alçados, o espaço interior organizado num amplo salão profusamente iluminado, e a associação a uma cisterna, são características que conferem a este edifício um carácter único no nosso país, sem paralelos imediatos na restante arquitectura medieval nacional. Tendo integrado os paços do concelho de Bragança desde o início do século XVI até meados do século XIX, altura em que a ruína iminente determinou o seu abandono, aparenta um aspecto fortificado, que aponta para a sua dupla função - cisterna e sala de reuniões da câmara. A cisterna é de alguma dimensão e tem abóbada de berço assente em três arcos, e a sala de reuniões, tem no interior um amplo salão, profusamente iluminado por janelas, e um banco corrido a toda a volta do recinto. As janelas de arco de volta perfeita sobrepujado por uma cornija com modilhões, surgem numa sucessão de arcarias que ocupam horizontalmente a totalidade dos alçados. No início do século XX, a importância deste edifício foi destacada, tendo-se procedido ao seu restauro nos anos 20.

Monumento singular (e ainda enigmático) da arquitectura românica civil; exemplar arquitectónico eloquente do período tardo medieval, a juntar à Torre de Menagem. (A designação de "Domus Municipalis" surge, apenas, no ocaso do séc. XIX). A sua edificação data, muito provavelmente, do primeiro terço de quatrocentos (como se comprova por um doc. de 1501), podendo ter coincidido com a do castelo. (A monumental fábrica, que foi, com certeza, erguida para esta edificação, teria deixado na penumbra a construção da "sala de água"). Assim se explicaria, porventura, porque não deixou ecos documentais o "subalterno" edifício. Não se pode recuar no tempo a construção do monumento, por seguir a "gramática românica". Nesta região de arcaísmos, assiste-se a uma longa sobrevivência do românico. 

A "Domus" é constituída por dois corpos (espaços) distintos. As denominações primitivas -"cisterna", "sala de água" (documentadas a partir de 1446) - indicam que os objectivos, que presidiram à edificação, teriam sido, primordialmente, de ordem utilitária. Incorpora uma cisterna de boa fábrica para armazenar águas pluviais e nascentes. O extra-dorso da abóbada de berço, que cobre a cisterna, forma o pavimento lajeado do salão. É este espaço arquitectónico superior, constituído pelo salão fenestrado, que empresta originalidade à edificação brigantina. Se não podemos concluir que esta "parte aérea" tenha sido edificada para servir especificamente como Paços do Concelho (Casa da Câmara), também não podemos afastar a hipótese de o "salão" ter sido utilizado, logo que acabado, para nele se realizarem reuniões dos "homens bons". Sabemos que nos primeiros anos de quinhentos se dá a "municipalização (edilização) efectiva da Domus" (como o demonstra um doc. de 1503). 





IGREJA SANTA MARÍA

Situada no interior do Castelo de Bragança, num ponto destacado, e nas proximidades da torre de menagem e da Domus Municipalis, tem a fachada principal orientada para um pequeno largo, e a fachada Norte aberta para um amplo terreiro. Construída no século XVI e alterada nos séculos XVII e XVIII, apresenta traços ao estilo maneirista e neoclássico, tem a sua planta composta pela capela-mor, pela capela adossada do lado Norte, pela sacristia a Sul e pela torre sineira. A fachada principal integra, do lado direito, a torre sineira, um portal, do tipo retabular, com colunas torsas rematadas com amplos frontões circulares, ladeado por nichos concheados ornados por volutas, e uma janela bastante decorada. No interior, o coro-alto tem a guarda em pedra, as coberturas são em madeira, e os retábulos são em talha dourada, ao estilo maneirista, nacional e joanino. No pavimento da nave, existem tampas sepulcrais epigrafadas, destacando-se, contudo, o da sacristia com blocos de xisto e osso, com elementos decorativos geométricos.
Sem que haja provas documentais, a edificação poderá remontar aos primórdios do burgo (da sua primitiva traça nada foi detectado). Nos meados do século XIII sabemo - lo pelas inquirições afonsinas -, a freguesia de Sta. Maria, sediada muito provavelmente na igreja com o mesmo nome, contava-se entre as quatro do aglomerado. As alterações mais significativas ocorreram ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII: Erigido no terceiro quartel de quinhentos, o corpo do monumento apresenta um interior dividido em três naves por colunas poligonais (construídas em tijolo) que sustentam arcos de meio ponto, modelando o espaço desta igreja-salão; a capela-mor (que deve datar de 1580) e a capela dos Figueiredos (dedicada a N. Sra dos Prazeres) mandada executar, em 1585, por Pero de Figueiredo (alcaide-mor de Bragança); do séc. XVII, refira-se o retábulo dedicado a Sto Estevão e a preciosa e expressiva imagem de Sta. Maria Madalena (altar-mor),obra seiscentista do mestre Gregório Fernandez ou Pedro de Mena, das oficinas de Valladolid; do séc. XVIII provêm muitos elementos decorativos e alguns acrescentos arquitectónicos, como o retábulo barroco da capela-mor e o tecto da nave central que apresenta uma pintura com cenografias de belo efeito, numa linguagem que se aproxima da que foi expressa nas igrejas de S. Clara, S. Bento, S. Francisco (capela de N. Sra. da Conceição) e na capela do antigo Paço Episcopal (hoje Museu do Abade de Baçal); a frontaria, de "tipo retabular", é animada por um portal de feição barroca (1690-1715),em que desempenham papel de relevo as colunas pseudo-salomónicas e os enrolamentos dos frontões. Pela mão dos canteiros, a talha dos altares materializou-se em pedra, para solenizar a entrada do espaço santo. 



CIDADELA


Recinto fortificado, que já fez parte de uma cerca muito mais vasta, em que se destacam as muralhas do castelo, a elegante Torre de Menagem, a "Domus Municipalis" e o Pelourinho. Todo este monumental conjunto, pela sua magnificência e grandiosidade, pelo seu inquestionável valor histórico e patrimonial, bem poderia fazer parte integrante do "património mundial". A sua singularidade e excelência bem o justificam. O Castelo,  - que ainda hoje domina o aglomerado - vai funcionar, através dos tempos, pela massa imponente, pelo volume, pelo gigantismo arquitectónico, como presença forte de "portugalidade" junto à fronteira, como um importante espaço, simultaneamente, "segurizante" e dissuasor... Aqui se teria organizado, provavelmente nos fins do séc. XII, o núcleo humano fundacional. Depois, foi uma longa história: há já mais de 800 anos que uns e outros homens vêm fazendo a cidade de que somos herdeiros... 



 CRUZEIRO E PRAÇA DA SÉ




A emblemática cruz - precoce peça escultórica de fuste serpenteado - foi colocada na praça nos fins de seiscentos, para substituir uma outra aí existente.. Apresenta no pedestal, com a inscrição (I.H.S.), a data de 1689. O Cruzeiro é coevo do janelão do lado poente da Igreja. É conhecido o seu peregrinar: levado para junto do cemitério I (1875), foi reconstituído e restituído (em 1931) ao seu lugar de origem, por iniciativa do "Grupo de Amigos dos Monumentos e Obras de Arte de Bragança". O crescimento da malha urbana, nos fins do séc. XV, devia já chegar a esta praça. Em quinhentos (na segunda metade) e, em especial, em seiscentos, dá-se um alargamento acentuado da área urbana. No séc. XVIII, o aumento populacional e o acréscimo da importância económica e administrativa da urbe são responsáveis por significativas alterações que afectam, sobretudo, as artérias mais dinâmicas (ruas de Trás e Direita e praça da Sé). Nesta praça - e desta praça - é bem visível a maneira como se consolida este outro tipo de malha urbana mais aberta, " mais ligada à dinâmica da racionalidade comercial". Pelas características deste novo modelo de aglomerado (ruas mais largas, rasgadas perpendicularmente às curvas de nível, seguindo, no geral, a direcção nascente/poente, desembocando numa praça) há um enriquecimento da funcionalidade do arruamento: as praças e logradouros (que "quebram a linearidade") assumem-se como espaços multifuncionais. A praça da Sé - dominada pela igreja - a partir dos últimos anos do séc. XVIII, tornou-se progressivamente o "coração da urbe". Em 1864 ainda aí funcionava um mercado diário de "cereais e todos os géneros comestíveis".

IGREJA DA SÉ

Edifício construído em terrenos pertencentes ao Mosteiro Beneditino de Castro de Avelãs e destinado a convento de freiras Claras, acabaria por ser entregue aos padres da Companhia de Jesus, em 1562, onde, em instalações anexas, fundaram um colégio. Hoje recuperado para instalação do Centro Cultural Municipal, Biblioteca Municipal, Conservatório de Música e Espaço Memória da Cidade. Com a expulsão da Ordem (1759), aqui se estabeleceu (1766) o Seminário Diocesano que, nos fins de oitocentos, realiza importantes obras de ampliação. 

A entrada principal da Igreja, localizada lateralmente, faz-se por um portal em que os valores renascentistas são interpretados livremente. Na construção que ampliou o templo, abre-se uma entrada secundária (um simples arco de volta perfeita); das janelas, a mais elaborada data de 1749; na face poente, aplicou-se um artístico e aparatoso janelão, datado de 1685 (para aqui removido no séc.XX). Em 1930/31, a Torre foi acrescentada com mais um piso, para instalar o relógio. 

A igreja, de uma só nave, reflecte as reformas feitas pelos Jesuítas (séculos XVII e XVIII) e as intervenções realizadas a partir de 1768, aquando da atribuição de funções catedralícias ao templo (em 1764, a sede da Diocese é transferida de Miranda para Bragança). O tecto subdivide-se em três abóbadas com arcos de cruzaria e mísulas; o altar-mor apresenta talha dourada de estilo nacional; o coro balaustrado é do séc.XVIII. Merece visita atenta a Sacristia, do séc.XVII, pela beleza da decoração, pela riqueza das pinturas no tecto apainelado (narrando a vida de Santo Inácio) e pelos quadros que ladeiam o arcaz. Também o Claustro merece especial atenção.



CAPELA DO SANTO ANTONIO

Integrada no antigo campo do Toural, está actualmente enquadrada junto ao rebordo Norte de uma grande plataforma relvada, apresenta traços barrocos e rococós, tendo sido edificada no século XVIII. Implantada no cimo de um embasamento quadrangular com cinco degraus foi envolvido, mais recentemente, por dois patamares rectangulares, tendo o superior, dois degraus, acolhendo o túmulo do instituidor com inscrição e uma tampa de mausoléu subterrâneo, e o inferior uma reentrância no canto Norte, com duas escadas com quatro degraus. De planta quadrangular, tem na fachada principal um portal axial de verga recta, de linhas marcadamente barrocas, encimado por um entablamento e por volutas. Todas as fachadas têm os cunhais encimados por pináculos com bola. No interior, a cobertura é abobadada e o retábulo é em talha dourada e policromada de tipologia rococó.






MOSTEIRO CASTRO DE AVELÃS



O mosteiro medieval de Castro de Avelãs, de invulgar arquitectura “hispânica”, merece uma atenta e prolongada visita, tanto mais que se localiza a escassa meia dezena de quilómetros de Bragança, beneficiando ainda de óptima acessibilidade através do IP4 e EN 103. 

O Mosteiro de S. Salvador de Castro de Avelãs, instituição religiosa mais poderosa de Trás-os-Montes durante o período medieval, viria a ser extinto pelos meados do século XVI (1545-1546). Do complexo monacal primitivo só resta hoje, de genuína arquitectura românica cluniacense, a cabeceira do templo, de remate semi-circular e revestimento em tijolo, com manifesta influência inspiradora da arte leonesa de Sahagun. A planta original incluiria três naves, apenas restando actualmente a central. No interior de um dos absidíolos, agora aberto no exterior, abriga-se um arcaz tumular granítico. 

A tradição popular diz ser este pertencente a um poderoso cavaleiro – o Conde de Ariães, personagem de tenebrosa e lendária história. Nesta freguesia, que tem por orago S. Bento, regista-se ainda um outro templo – a Igreja de Fontes – bem assim como uma interessante ponte de alvenaria, dita do Conde de Ariães.


























































Fonte de Informação: Bragança Cidade (Publicação da CMB)
Fotografía: Calourinha

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